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[Crítica] A Vida dos Peixes (2010)

Reminiscências

Em alguns filmes, ficamos procurando a ligação entre o título e a obra em si. Esse é o caso de A Vida dos Peixes, produção chilena original de 2010, mas que só chegou às telonas do Brasil nesta semana. Em determinadas cenas do melancólico longa, são focados peixes num aquário que deslumbram o protagonista. Eles nadam por diversos locais e nunca se fixam num determinado ponto. Eles nunca param.

Sustentando sua narrativa no regresso do jornalista Andrés ao Chile para uma festa de aniversário, o filme se desenvolve conforme um olhar saudosista nos é mostrado. Esse olhar paira sobre a personagem, uma espécie de jornalista-turista-viajante que passa por todos os cantos do mundo e possui a obrigação de escrever sobre o que vê. Portanto, ele também nunca se fixa em um ponto. Seu trabalho o obrigou a abandonar parentes, amigos e um amor.

Desde o início do filme, Andrés aponta que necessita ir embora para não se atrasar no seu voo de volta à Europa. Contudo, permanece andando sutilmente pela casa do amigo e lembrando de seu passado, que aparenta ser mais feliz que o presente. Pode-se notar isso com os sorrisos cansados e tristes que Andrés possui.

“O gosto do pão com abacate”, “O modo como ele ligava o aparelho de rádio”, “Lembra quando íamos ao cinema com seu irmão?”, as inúmeras fotos, conversas com crianças… A Vida dos Peixes respira reminiscências a cada segundo que Andrés se depara com um novo personagem para nós e um velho amigo para ele.

A maior problemática de sua vida nômade constitui no motivo principal da volta de Andrés ao Chile e sua ida a tal festa de aniversário: rever a pessoa que outrora abandonou, Beatriz. A personagem é mostrada pela primeira vez acompanhada de uma bela música ao fundo, a que permeará enquanto Andrés anda nos corredores escuros da casa do amigo e vai reencontrando seu passado.

A principal “novidade” que o protagonista encontra é que seu antigo amor seguiu uma vida sem sua presença e a esperança de Andrés de que possam ficar juntos novamente é palpável em seu olhar.  As conversas que o casal possui, sendo uma delas situada dentro de uma sala atrás de um belo aquário, não são cansativas ou superficiais. São belas e também permeadas de dor. Assim como Andrés, o sorriso de Beatriz não é muito bonito. Ela também pensa no passado e “no que poderia ter sido…”

A Vida dos Peixes se constitui, então, numa bela jornada existencialista. Possuindo êxito graças aos seus personagens tão melancólicos. A narrativa é basicamente formada por planos em que o rosto dos personagens é o foco. O que eles tem a dizer é o mais importante para o filme. Portanto, o local em que todo ele se passa, a casa do amigo de Andrés, se torna a locação perfeita: intimista como a obra e a ironia de seus tristes sorrisos.

POR MELINA ALVAREZ

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