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[Crítica] Sombras da Noite (2012)

Mais uma vez Tim Burton, Johnny Depp e Helena Boham Carter. Mais uma vez a “sagrada trindade” e seus filmes consecutivos. Mais uma vez mergulhamos em um universo fantástico burtoniano; dessa vez com a presença de vampiros injustiçados e feiticeiras malvadas. Oops! Só existe um vampiro e uma feiticeira malvada, de fato, em Sombras da Noite.

Em meados do século XVIII numa cidade sombria chamada Collinsport, estado de Maine, a feiticeira malvada chamada Angelique Bouchard (vivida por uma Eva Green querendo soar tão sensual que cansa) lança uma maldição sobre Barnabas Collins (Johnny Depp), pois o mesmo não correspondia ao seu amor. Tal maldição o condiciona a ser um vampiro injustiçado. Além disso, Angelique providencia que Barnabas perca sua grande amada, a jovem Josette, e que seja enterrado por cidadãos revoltados graças ao seu novo status de monstro. Dois séculos mais tarde, Barnabas é desenterrado e retorna à velha mansão Collins.

O redescobrir do mundo por Barnabas rende as partes mais envolventes do filme: andando pelas ruas de Collinsport, vê como as pessoas falam em telefones, contempla roupas, descobre o Mc Donald’s, cinema, automóveis e seu estranhamento é deveras interessante. É uma pena, portanto, que o filme só invista na parte engraçada desse estranhamento e não explore o que isso pode significar intimamente para o vampiro.

Um importante conceito aplicado desde o início do longa é o de “família” e “laços de sangue”. Portanto, falar da família Collins e de como mantê-la é justificativa para a ação do protagonista Barnabas contra as maldades de Angelique. O problema é que em momento algum os descendentes de Barnabas convencem como família. A relação de Elizabeth (Michelle Pfeiffer) com os filhos Carolyn (Chloë Moretz desperdiçando talento) e David (Gulliver McGrath) é extremamente superficial, rendendo momentos aborrecidos como a filha adolescente criando discussões bobas com os pais à cerca de seu comportamento blasé. A agregada da mansão, Dra. Hoffman (Boham Carter) rende um ótimo momento em que questiona a rotulação das pessoas. Infelizmente, o filme serve perfeitamente o prato dos rótulos, o que nos remete ao “vampiro injustiçado” e “feiticeira malvada”. Ah, e a figura masculina da mansão, Roger (Jonny Lee Miller), soa como um grande adendo no filme, apenas “contribuindo” para um momento extremamente artificial no terceiro ato.

No meio desses personagens unidimensionais, surge e desaparece sem mais nem menos Victoria (Bella Heathcote), nova tutora do menino David. E esse parece ser um erro narrativo grave, pois o roteiro resgata a moça somente em momentos convenientes. Não soa orgânico, muito menos sua relação com Barnabas.

O mundo em si que Tim Burton concebe já não soa natural. Seu tom escuro e supostamente assustador não estabelece uma relação harmônica com a personalidade daqueles que vivem ali: criaturas vazias numa mansão de mais de 100 quartos.

O desfecho de Sombras da Noite rende uma rima narrativa interessante, apesar de não haver grandes motivos para nos importarmos com aqueles personagens ou seus “laços de sangue”. Está aí uma crítica constante e importante: os personagens de Tim Burton necessitam de investimento artístico tanto quanto o design de produção de seus filmes.

POR MELINA ALVAREZ

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